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quinta-feira, 22 de julho de 2010

A ESTAÇÃO FINAL DO TREM (poesia)


Autor: Mateus Barros

Vagões lotados

Pessoas nos convéns

Todos estão à espera

Da estação final do trem


Pessoas sentam ao meu lado

Parados em minha frente estão

Olhos marcados pela história

Mas eu não sei quem são

Na estação eles saltam

Alguns deixarão saudades

Outros partirão na solidão


Este trem chamado vida

Pela trilha do tempo ele percorre

Acelerando e freando

Velocidade inconstante

Paradas bruscas e imprevisíveis

Outras já ansiosamente esperadas

Só este trem que não morre


Na janela olhamos a paisagem

O mundo mostra a sua face

Tão independente da nossa passagem

Ali estão outros passageiros do trem

Sem saber o dia a hora ou a precisão

O que eles sabem é que o trem sempre vem


Já ouvi falar de trens fantasmas

Será que eles existem

Uns dizem que são de arrepiar

Outros que são como este

Onde a viagem continua

Além da estação final


Somos todos passageiros neste trem

Sabemos da estação destino que nos aguarda

Mas a viagem é tão bonita

Com tantos passageiros ilustres

Que esquecemos para onde vamos

Há algo de inexplicável neste trem


Às vezes desejamos chegar logo

Viajamos sem levar bagagens

Sente que valor nenhum esta viagem tem

Outros passageiros já não mais importam

Dá até vontade de saltar do trem


Outros viajam felizes

Satisfeitos apesar dos poréns

Sentem que fizeram da viagem uma obra de arte

Fizeram coisas e amaram alguém

No chão duro do vagão plantou sementes

Seguiram o caminho do bem

Agora podem relaxar e chegar

Na estação final do trem


Esperado ou inesperado

Este trem possui um sistema falho

Ele não avisa

Se vai parar ou se vai continuar

Não sabemos onde e quando

Chegaremos na estação final

Deste trem chamado vida.

* dedico esta postagem a Lilian. Sua avó está hospitalizada devido a idade avançada. Espero que ela melhore e que estas palavas sirvam de conforto.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O mal da felicidade 2 – a salvação de uma farra


(Dedico esta postagem a Sophia. Não a conheço pessoalmente, mas é a maior leitora e comentarista do meu blog. Pessoas como ela motivam a dinâmina deste pequeno tripé para o mundo das letras. Se for solteira e gata, louvada seja. Se for feia e comprometida, abençoada seja.)

Quem canta, seus males espanta. Mas quem silencia, nem sempre seus males anuncia. Então, por que temos sempre que nos incomodar com aquele nosso amigo que está calado, pensativo em um momento de muita euforia coletiva? Por que temos que discriminá-lo, logo ele, que costuma nos presenteia com um imenso prazer em forma de presença? Será que é por isso? Estamos tão habituados com um prazer que a sua presença alegre nos proporciona de modo que se torna inadmissível o fato da sua alegria eufórica não esteja tão presente quanto a sua pessoa física? É aí que impera o regime ditatorial da felicidade. Não aceitamos a presença de pessoas morgadas* em ambientes vigiados pelo exército vermelho da felicidade. Todos somos componentes deste exército, e se nos comportamos de maneira “morgada”, é sinal de que estamos traindo nossa corporação. Ainda posso ir um pouco mais além: Trata-se de um exercito fraco, pois carece de autonomia individual, mecanismo de sobrevivência fundamental em casos de falha do sistema coletivo. Dá pra entender até que a tal felicidade não emana do nosso interior – como acontece com o glorioso conhecimento. Parece que ela vem de fora, nos tornando dependentes de ambientes alegres tal qual um viciado em crack ou uma pessoa carente de afeto.



Retomando a premissa inicial: quem silencia, nem sempre seus males anuncia. Isso. Apesar do erro de concordância por seguir a rega popular, este ditado inventado por mim diz respeito a qualidades que podem possuir algumas pessoas que estão silenciosas em momentos de muito barulho. Elas podem estar refletindo sobre algo, analisando o ambiente, zelando pelos amigos por livre e espontânea vontade. Sem que o momento nos permita dar conta disso, essas pessoas acabam sendo muito importantes em momento de farra. Tomo a farra como exemplo por representar a alegria a qual me refiro; e mais, subsidiadas por elementos simbólicos da suposta alegria: álcool, mulheres, música, e por aí vai. O silencioso pode assumir um papel mais importante que muitos dos outros que estão inseridos no contexto não podem assumir. Muito além disso, pode ser a pessoa mais disposta a bater um papo diferenciado do contexto. Por essas e outras é que ele pode ser a salvação da farra, aquele elemento capaz de nos fazer realmente felizes. Claro, ele pode estar preocupado com algum particular, mas há de ser respeitar segundo a boa moral; e fazendo isto, nos sentimos bem melhor ajudando este amigo do que finalizando a farra com algum sexo frustrante. Podemos viver momentos de sinceridade e ternura tendo a farra como pano de fundo, lembramos sempre de que aquela felicidade toda é fugaz e incomparável à nobreza de espírito que um certo silêncio da noite pode nos trazer.

*Termo popular, que de tão vago, designa qualquer comportamento que se assemelhe a melancolia ou que não corresponda com os padrões limitados da alegria exaltada em harmonias coletivas