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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

um ano sem tio Benito



E para terminar mais um ano de Blog, um texto sobre tio Benito encomendado por Daniel Nasser, que atua no blog Sub Rosas (http://subrosa13.blogspot.com) e que fez uma homenagem para ele depois de um ano de sua morte, reunindo textos de diversas personalidades da cidade Macau, sobre a figura que foi Benito Barros...


"Não é fácil abrir mão de palavras sobre Benito Barros, mas já se que se trata de um pedido originado dos sentimentos de um amigo meu e conterrâneo do homenageado, eis que acendo o pavio. Convivi muito pouco com ele, pois apesar de ser meu tio, vivemos em lugares diferentes: ele em Macau e eu em Recife. Não que a distância física determine a distância espiritual, a não ser quando cada um dos entes possui um sentimento especial pela sua terra. Ele soube expressar esse sentimento melhor do que eu tô tentando, mas nada como boas referências para desenvolver tal atitude. Seu material a respeito da sua cidade interessa a estudiosos de várias áreas acadêmicas: Sociólogos, antropólogos, engenheiros, linguistas, filósofos, geógrafos, historiadores, teólogos, cientistas políticos, e por aí vai... basta que eles possuam Macau como tema de referência.

Mas prefiro aproveitar essas breves linhas para tratar da pessoa dele segundo a minha perspectiva parental. Minhas lembranças remotas de tio Benito advindas do meu período de infância - aquelas que podem definir com a máxima sinceridade possível – remetem a um cara que falava alto e grosso, mas que afinava a voz quando bebia: um cara ativamente mal-humorado em tensa sobriedade e alegre em solene embriaguez. Assim como eram seus estados de embriaguez eram seus momentos de ressaca, quando ele, anarquicamente, resolvia interferir nas brincadeiras dos meus primos (coincidentemente, seus queridos sobrinhos). Lembro de uma vez que nós estávamos tentando fazer um filme com uma daquelas câmeras antigas (meados dos anos 90) de VHS, e ele teve o atrevimento de atrapalhar as cinco cenas do nosso carinhoso projeto cinematográfico (ambientando no paraíso tropical de barreiras). Também me lembro das pescarias no mar, onde caminhávamos raios de metros mar seco adentro em busca de carangueijo, ou somente para olhar a diversidade biológica do mar. Lembro-me do seu iate, na maioria das vezes, estacionado na praia, onde servia mais como bar do que como barco de pesca.

Quando criança, meu contato com Tio Benito era mais frequente por causa das férias. Na adolescência, devido à moratória requisitada pela idade, as opções de ser e estar eram diferentes daquilo, e a cidade Macau começou a parecer mais distante. Assim como foi com a cidade, foi meu contato com Tio Benito, que raras vezes saía de lá. Mas meu pai e meus tios e tias sempre mantiveram contato com ele, que adorava receber boas notícias dos sobrinhos. Eu percebia que ele gostava das produções artísticas dos sobrinhos: vide sua admiração pela banda Incredible Scroobs (do meu primo Paulo) pelo meu Maracatu, desenhos do meu primo Mário, e outras coisas mais. Há cincos anos que eu levei meu maracatu para se apresentar em Macau para desfilar na campanha do candidato Eduardo Lemos em uma eleição para prefeito que aconteceu extraordinariamente em janeiro. Fomos muito bem recebidos por Tio Benito: Ficamos hospedados na sua casa e ao final, ele presenteou cada um dos meus batuqueiros com um vinho chileno o qual eu não me recordo o nome (tratamos de degusta-lo o quanto antes).

Ele vibrou muito em nossos desfiles pela cidade. Minha última lembrança dele foi no aniversário de 80 anos de vovó Terezinha. Ele estava sentado do lado de fora do salão, onde ele poderia fumar e beber o quanto quisesse. Passei uns quarenta minutos conversando com ele; e dessa conversa, eu me lembro dele dizer que estava preocupado com a situação dos jovens em Macau, que estavam - em considerável número – se afundando na dependência química (mais especificamente do crack). Também me lembro dele recitar um discurso em forma de poema sobre vovó, tão brilhante e emocionalmente estoico como ele sempre foi. Termino este texto da mesma desejando que a eternidade seja um bom lugar para ele (Deus deve ter precisado dele como secretário geral do Universo, pra tê-lo levado assim tão de repente), e tal como a eternidade seja o eco da pronúncia de seu nome na cidade de Macau e nas próximas gerações da família Barros."

Feliz 2012 para todos...

Nunca percam as esperanças!!!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Nostalgia e Reggae




Já chega, desta vez passei tempo demais sem escrever. Bati o recorde de preguiça e me acomodei no conforto angustiante das redes sociais enquanto não transformava uma gota de pensamento em palavras. Vamos ver agora como anda o meu pique. Mas agora o clima é mesmo de paz e conforto; pois após um período de letargia mental que se apossou de mim devido a uma nuvem negra que pairou sobre a minha cabeça em novembro, eis que chega dezembro em clima de retrospectiva de um ano que se vai. Ao invés de retrospectiva, algumas pessoas como eu preferem recorrer a recordações mais antigas, o que dá vazão a um sentimento ambíguo, provocador de prazer e desprazer ao mesmo tempo: a nostalgia. Tal sensação diz respeito ao prazer de reviver algo que já foi felizmente vivido, e, também, ao desprazer de cair na consciência de que este tempo não volta mais. É uma espécie de sentimento pelo irreal, por imagens que permanecem apenas na memória em contraste com uma realidade cujas imagens apenas deixaram marcas. Talvez a época do natal remeta um pouco à nostalgia de forma arquetípica, pois na data dele, comemoramos o aniversário do nascimento do nosso grão mestre, que há séculos não vive mais entre nós, mas que paira no nosso inconsciente coletivo.

Minha prosaica sintonização com a nostalgia aconteceu em peso quando, por acaso, resolvi utilizar os artifícios cibernéticos para encontrar uma canção que tocava frequentemente nas sintonias radiofônicas de Pernambuco, em um período remoto da minha vida. A melodia não saia da minha cabeça, mas a única parte da letra da música que minha memória conservava era uma simples frase que dizia: “Vento norte, protetor... vento norte, tradutor... justiceiro, bendito, ensina a viver nesta terra carente de paz e amor”. Nem sabia qual o grupo que tocava; mas o Google com a sua infinita eficiência localizou rapidamente os autores: o grupo chama-se “Grupo Karetas”; e o nome da música... “vento norte”. Trata-se, na verdade, da primeira canção de Reggae gravada em Pernambuco (no ano de 1983), e, portanto, a primeira inserção do estilo no dito estado do Brasil – vale ressaltar que tal fenômeno antecedeu outro ainda maior: a invasão do Reggae no estado do Maranhão, que só aconteceria lá pelos idos de 1987. Em poucos estantes, estava lá eu me deliciando com o tal vento que vinha do norte e entrava pela janela da minha antiga casa, situada na Rua Capitão Sampaio Xavier, no bairro dos Aflitos.

Tal recuo ao imenso prazer que presenteia a nostalgia me motivou a procurar saber um pouco mais sobre Reggae; adentrar um pouco mais na sua história, seus primórdios. Seu surgimento ocorreu na Jamaica, em meados de fim da década de 60 – período de mudanças culturais ocorridas, paralelamente, em diversos países da américa e da Europa, atingindo o campo das artes com inovações ousada na busca por novas formas. Fusões de estilos musicais que culminavam em um novo estilo eram bastante frequentes; e nesse aspecto, o reggae surge a partir de uma fusão do Rocksteady , o Ska e o Skank. Menos original (porém genuíno) eram as mensagens que as canções de reggae carregavam e carregam até hoje: paz, amor, liberdade e contra as guerras (assim como outros movimentos da contracultura que surgiram como protesto contra guerras como a do Vietnã). Tal mensagem hoje é bastante confundida por maconheiros e porra-loucas que cultuam o reggae como uma extensão das suas lisergias. Ao longo dos anos, alguns pequenos incrementos rítmicos foram inclusos no reggae; porém, tal acontecimento hoje é vitima de resistência por parte dos amantes do reggae que preferem o formato Roots (denominação carinhosa dada ao Reggae de raíz). Isso reflete uma tendência do reggae a ser conservador; e como consequência disto, não somente os amantes do estilo cultuam nomes clássicos como Bob Marley e Peter Tosh, como as próprias bandas que surgem e fazem sucesso entre o público, não apresentam sequer uma inovação musical. Essa preferência pelas raízes da coisa não tem muita semelhança elementar com a nostalgia, mas os termos que os definem se aproximam bastante: Se nostalgia significa reviver (regressar mentalmente a...) uma época que se passou, e raízes está relacionado a origem (algo situado no passado), então, nostalgia e reggae tem tudo (ou muito) haver. E por falar em roots e raíz (a mesma coisa), fui atrás de assistir ao filme “The Harder They Come”, de 1973, estrelado por Jimmy Cliff, um dos patronos do reggae. Nada mais raíz que este filme, que foi um dos principais responsáveis pela divulgação do Reggae fora da Jamaica. Sua história é banal, mas sua trilha sonora é gostosa e nostálgica... um personagem à parte. O reggae é pura nostalgia.