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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Guilherme Lamounier e um pouco do cenário musical brasilero da década de 70



Falar de Guilherme Lamounier é fazer uma viagem à cena musical brasileira da década de setenta, bem como se aventurar teoricamente em busca de entender os motivos que fez com que um artista tão bom como ele fosse completamente esquecido. Tomo-o como referência porque o descobri recentemente e venho escutando ele bastante no toca-CD do meu carro; mas deve-se levar em conta que o mal do ostracismo recaiu sobre uma centena de artistas daquela época. Ao final deste texto, pretendo responder às seguintes questões: 1) Quem foi Guilherme Lamounier? ; 2) Como se define o cenário musical brasileiro daquela época? 3) O que levou Guilherme Lamounier a ser a ser deletado da memória da nossa música? E vamos embora... pra lá de Bora Bora.

A história de Guilherme Lamounier tem início em vinte e cinto de novembro de 1950, quando ele nasce. De início, ele morou no Canadá, onde fora alfabetizado na língua inglesa. Depois voltou pro Rio de Janeiro, sua cidade natal, e lá permaneceu até hoje, indo uma vez ou outra para os Estados Unidos. Sua família era quase toda composta por músicos renomados, o que faz com que o destino de Guilherme não fosse diferente. Sua estreia musical fora aos dezessete anos, quando este integrou um grupo chamado Todas as estrelas, onde atuou como vocalista. Foi em 1969, com o término da banda, que Guilherme Lamounier se lançou em carreiro solo e lançou o seu primeiro LP homônimo em 1970. Para resumir de vez a sua trajetória musical: Foram cinco álbuns e um EP, lançados até o ano de 1984, quando ele deixou de gravar devido às influencias musicais oitentistas e ao desgaste causado pela exploração midiática das suas músicas; mas isso não o impediu de continuar compondo. Prefiro me ater aqui à sua música, repleta de influências norte-americanas: uma mistura Folk-rock (ritmo do qual sou apaixonado), Blues, Funk-Soul e country, resultando numa música alegre, contagiante e nostálgica. Algumas de suas canções foram regravadas por artistas como Fábio Jr. (“Enrosca", também regravada doze anos depois por Sandy e Júnior, e “seu melhor amigo”) e Zizi Possi (“um toque de amor”, uma das minhas canções favoritas de Guilherme Lamounier). O mais interessante eram as suas letras: tratavam de ideais do movimento Hippie americano, porém, com uma conotação ingênua, acreditando num ideal puro de vida, baseado em naturalismo, no anti-materialismo, alienação e amor puro. Assim sendo, é muito comum ouvir temas como liberdade, desapego às coisas materiais, alucinações psicodélicas e culto a natureza sendo tratados de forma tão poética na música de Guilherme Lamounier. Haja charme e talento.

Por outro lado, tem o cenário da música brasileira da década de setenta, onde eu tento responder ao segundo quesito proposto no primeiro parágrafo. Os anos 70 foi o período de ascensão da MPB, gênero musical brasileiro que se caracterizava mais como um movimento de vanguarda, pois se propunha a criar uma música que fosse tipicamente brasleira. Assim sendo, é um gênero de difícil definição por englobar um infinidade de ritmos nacionais. Recebeu tal denominação (MPB) devido aos espaços de manifestação: os Festivais da música brasileira, que aconteciam no espaço Guarujá, em São Paulo, e divulgado pela extinta TV Excelsior. Os artistas mais aplaudidos nestes festivais formaram uma vanguarda musical que se manteve até hoje: são artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Outros sumiram do mapa, mas ainda assim são lembrados – como Geraldo Vandré, Sérgio Sampaio e Taiguara. A união que fortaleceu a notoriedade destes artistas se deveu ao clima de agitação causado por um período de ditadura militar no coração dos jovens artistas que ousaram contestar o regime através da música. Assim, as canções que formavam a vanguarda musical correspondiam com os valores da juventude daquela época, contestando o regime autoritário num misto de amor com rebeldia. Quem não se adequava a esses padrões ficava de fora da vanguarda e corria um sério risco de passar despercebido pela massa. Outros que também ficaram de fora poderiam ser notados na década seguinte, onde uma grande inversão de valores acontecia, e a música engajava daria espaço ao rock da babaquice dos anos 80. Lógico, também não devemos esquecer os artistas populares da música romântica, tais como Roberto Carlos, que serão eternamente lembrados pelo povão, que se identificava muito mais com eles do que com a tal MPB, que era o foco de adoração das classes médias universitárias. Os excluídos foram aqueles que se propuseram mais pra MPB do que para o romântico, mas sem abarcar o seu caráter nacionalista e nem tampouco se engjando na luta.

Eis que agora entramos na terceira questão: O que levou Guilherme Lamounier a ser a ser deletado da memória da nossa música? Bom, os dois últimos parágrafos servem de premissa para que se possa responder a esta pergunta. Se o cenário musical brasileiro dos anos setenta, elegia os seus ídolos por suas letras engajadas e por suas influencias musicais puramente regionais, então Guilherme Lamounier não poderia entrar nessa lista. Suas letras que falavam de amor ou de liberdade de uma forma ingênua parecem não haver despertado tanto o interesse de ouvintes mais sedentos por revolta contra o regime em vigor naquele momento. Isso sem falar nas suas influências musicais, quase todas americanas, de modo que eu até me arrisco a afirmar que ele foi um legítimo representante do Folk-Rock brasileiro, ritmo que praticamente não existiu. Quebrou a cara, se esbarrando no sentimento anti-americanista que imperava na conciência da classe média da época e que representavam um grande número de vozes e votos no Brasil.

Por outro lado, algumas fontes biográficas virtuais afirma que ele simplesmente abriu mão da indústria fonográfica por vontade própria, pois não se sentiu bem com os rumos que esta estava tomando, optando assim, por uma vida tranquila. Tudo bem se fosse só isso, mas porque do esquecimento? Digo e repito, ele é apenas uma referência para um mal que atingiu muitos artistas daquela época, assim como foi com Wilson Simonal – Talvez o caso mais famoso de ostracismo da música brasileira – que fez muito sucesso durante um tempo, até ser tachado de delator da ditadura militar, e consequentemente, ser rejeitado pela população. Eis que surge uma tese a se trabalhada em outros próximos textos: “as esquerdas brasileiras sempre foram dominantes no que diz respeito à criação artística e sua difusão através da mídia, ao contrário do que muitos pensam”. Essa tese já foi defendida pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, pelo grande jornalista e intelectual Paulo Francis e pelo saudoso cronista e escritor Nelson Rodrigues. Serei eu o próximo a defendê-la. Mas agora, prefiro ficar com Guilherme Lamounier, este compositor que ainda será redescoberto; afinal, o Brasil precisa da sua música.

Aqui vai os links da sua discografia para os interessados. Basta copiar e colar na barra de navegação:

Guilherme Lamounier 1970
http://www.4shared.com/file/102016509/331da959/Guilherme_Lamounier_1970.html

Guilherme Lamounier 1973
http://www.4shared.com/file/102141233/63c1616d/Guilherme_Lamounier_1973.html

Guilherme Lamounier 1978
http://www.4shared.com/file/102147532/34e218a2/Guilherme_Lamounier_1978.html

Compactos 1975 - 1984
http://www.4shared.com/file/102145092/62cffa48/Compactos_1975-1984.html

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A morte


Gosto muito dos meus leitores, mas hoje acordei com desejos sádicos e sadomasoquistas; por isso, vamos tratar de um tema pouco agradável: a morte. Aperta o cinto, Sophia. Este tema soa indigesto, pois consiste no único paradigma imutável de nossa existência: a certeza de que vamos morrer um dia. Cultivamos duas coisas em nossas vidas: as metas para se alcançar o status da felicidade e os pequenos prazeres, onde o tempo parece congelar e dar lugar ao eterno. Esta horta nos permite ignorar a cada instante o pensamento sobre a morte. Mas desde já, não vou ignorá-la, vou judiar um pouco de mim e de vocês. E ai, leitor? Como será a sua morte? Sabe aquela dor física insuportável, a maior que você vai sentir na sua vida, tanto que seu corpo não resistirá? Pois é, ela vai vir. Estarás preparado? Quanto será que vai doer? E a dor? Esta é a que mais nos apavora. Ao saber que vamos ter que passar por uma cirurgia, arrepia até o cabelo do dedo do pé, quando projetamos o sentimento para a dor que vamos sentir no processo.


Pois é, por maior que seja o nosso bem-estar físico e psíquico, a dor virá nos castigar, e tudo será somente uma questão de decisão do maior agente de toda a nossa existência: o tempo. Esse aí é o mais sacana de todos, pois ele tem o poder absoluto. Quando pensamos que temos poder de mudar o mundo, ignoramos uma força muito maior que do que nossas mentes e nossas mãos... o senhor tempo. O tempo é quem realmente domina; do contrário, tudo o que se iniciaria não necessariamente teria um fim. E a verdade é esta: tudo tem um fim. Nada vai ficar, nem as memórias culturais mais resistentes ao tempo, como a de Jesus Cristo, por exemplo. Será que Jesus vai ser esquecido um dia também? Com certeza, será. Sabe-se lá se até então o tempo encontrará outro adversário tão poderoso quanto Jesus Cristo.


Quando criança, eu dei os meus primeiros suspiros filosóficos ao perguntar ao meu tio “Faé” se todos iriam morrer, inclusive eu. A resposta afirmativa dele foi um choque de milhões de volts. Eu me lembro de que chorei demais nesse dia, e desde então, eu não vivo um dia sem pensar por alguns instantes que em algum momento eu vou morrer. Eu fantasiava até sobre uma tal “pílula da imortalidade” que algum cientista competente iria descobrir antes que eu morresse. Pena que isso não aconteceu até agora. Na verdade, hoje eu penso que não gostaria realmente de ser eterno; porém, seria ótimo que pudéssemos viver mais do que esse período de permanência que o agente tempo nos permite viver. 60, 70, 80, 90 e agora 100... é muito pouco. O ideal seria que pudéssemos viver até 500 anos – aí sim, eu acreditaria que nas palavras de uma pessoa idosa de quinhentos anos que diz estar enjoada de tanto viver.


Bom, peço desculpas a alguns leitores mais religiosos do que eu. Eu sou um cara de fé, acredito em verdades universais, penso muito sobre a ética, o bem e o mal, sobre a salvação da humanidade. Até na eternidade espiritual eu acredito. O problema é o tamanho da subjetividade que abarca a idéia de morte e todos os afetos que a envolve. Por falar nisso, preciso assistir ao filme “nosso lar”, baseado na obra homônima de Chico Xavier; acredito que vai me render muitas palavras para um próximo texto sobre este tema. Atrai-me bastante a ideia de que somos espíritos encarnados, e por isso, a vida se estende além deste corpo. O problema é que ‘apenas’ atrai. Quanto a acreditar é preciso que meu sonho mais existencial se realizasse: receber a visita de um espírito desencarnado. Ah, como seria bom, eu faria milhares de perguntas a ele.