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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

um ano sem tio Benito



E para terminar mais um ano de Blog, um texto sobre tio Benito encomendado por Daniel Nasser, que atua no blog Sub Rosas (http://subrosa13.blogspot.com) e que fez uma homenagem para ele depois de um ano de sua morte, reunindo textos de diversas personalidades da cidade Macau, sobre a figura que foi Benito Barros...


"Não é fácil abrir mão de palavras sobre Benito Barros, mas já se que se trata de um pedido originado dos sentimentos de um amigo meu e conterrâneo do homenageado, eis que acendo o pavio. Convivi muito pouco com ele, pois apesar de ser meu tio, vivemos em lugares diferentes: ele em Macau e eu em Recife. Não que a distância física determine a distância espiritual, a não ser quando cada um dos entes possui um sentimento especial pela sua terra. Ele soube expressar esse sentimento melhor do que eu tô tentando, mas nada como boas referências para desenvolver tal atitude. Seu material a respeito da sua cidade interessa a estudiosos de várias áreas acadêmicas: Sociólogos, antropólogos, engenheiros, linguistas, filósofos, geógrafos, historiadores, teólogos, cientistas políticos, e por aí vai... basta que eles possuam Macau como tema de referência.

Mas prefiro aproveitar essas breves linhas para tratar da pessoa dele segundo a minha perspectiva parental. Minhas lembranças remotas de tio Benito advindas do meu período de infância - aquelas que podem definir com a máxima sinceridade possível – remetem a um cara que falava alto e grosso, mas que afinava a voz quando bebia: um cara ativamente mal-humorado em tensa sobriedade e alegre em solene embriaguez. Assim como eram seus estados de embriaguez eram seus momentos de ressaca, quando ele, anarquicamente, resolvia interferir nas brincadeiras dos meus primos (coincidentemente, seus queridos sobrinhos). Lembro de uma vez que nós estávamos tentando fazer um filme com uma daquelas câmeras antigas (meados dos anos 90) de VHS, e ele teve o atrevimento de atrapalhar as cinco cenas do nosso carinhoso projeto cinematográfico (ambientando no paraíso tropical de barreiras). Também me lembro das pescarias no mar, onde caminhávamos raios de metros mar seco adentro em busca de carangueijo, ou somente para olhar a diversidade biológica do mar. Lembro-me do seu iate, na maioria das vezes, estacionado na praia, onde servia mais como bar do que como barco de pesca.

Quando criança, meu contato com Tio Benito era mais frequente por causa das férias. Na adolescência, devido à moratória requisitada pela idade, as opções de ser e estar eram diferentes daquilo, e a cidade Macau começou a parecer mais distante. Assim como foi com a cidade, foi meu contato com Tio Benito, que raras vezes saía de lá. Mas meu pai e meus tios e tias sempre mantiveram contato com ele, que adorava receber boas notícias dos sobrinhos. Eu percebia que ele gostava das produções artísticas dos sobrinhos: vide sua admiração pela banda Incredible Scroobs (do meu primo Paulo) pelo meu Maracatu, desenhos do meu primo Mário, e outras coisas mais. Há cincos anos que eu levei meu maracatu para se apresentar em Macau para desfilar na campanha do candidato Eduardo Lemos em uma eleição para prefeito que aconteceu extraordinariamente em janeiro. Fomos muito bem recebidos por Tio Benito: Ficamos hospedados na sua casa e ao final, ele presenteou cada um dos meus batuqueiros com um vinho chileno o qual eu não me recordo o nome (tratamos de degusta-lo o quanto antes).

Ele vibrou muito em nossos desfiles pela cidade. Minha última lembrança dele foi no aniversário de 80 anos de vovó Terezinha. Ele estava sentado do lado de fora do salão, onde ele poderia fumar e beber o quanto quisesse. Passei uns quarenta minutos conversando com ele; e dessa conversa, eu me lembro dele dizer que estava preocupado com a situação dos jovens em Macau, que estavam - em considerável número – se afundando na dependência química (mais especificamente do crack). Também me lembro dele recitar um discurso em forma de poema sobre vovó, tão brilhante e emocionalmente estoico como ele sempre foi. Termino este texto da mesma desejando que a eternidade seja um bom lugar para ele (Deus deve ter precisado dele como secretário geral do Universo, pra tê-lo levado assim tão de repente), e tal como a eternidade seja o eco da pronúncia de seu nome na cidade de Macau e nas próximas gerações da família Barros."

Feliz 2012 para todos...

Nunca percam as esperanças!!!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Nostalgia e Reggae




Já chega, desta vez passei tempo demais sem escrever. Bati o recorde de preguiça e me acomodei no conforto angustiante das redes sociais enquanto não transformava uma gota de pensamento em palavras. Vamos ver agora como anda o meu pique. Mas agora o clima é mesmo de paz e conforto; pois após um período de letargia mental que se apossou de mim devido a uma nuvem negra que pairou sobre a minha cabeça em novembro, eis que chega dezembro em clima de retrospectiva de um ano que se vai. Ao invés de retrospectiva, algumas pessoas como eu preferem recorrer a recordações mais antigas, o que dá vazão a um sentimento ambíguo, provocador de prazer e desprazer ao mesmo tempo: a nostalgia. Tal sensação diz respeito ao prazer de reviver algo que já foi felizmente vivido, e, também, ao desprazer de cair na consciência de que este tempo não volta mais. É uma espécie de sentimento pelo irreal, por imagens que permanecem apenas na memória em contraste com uma realidade cujas imagens apenas deixaram marcas. Talvez a época do natal remeta um pouco à nostalgia de forma arquetípica, pois na data dele, comemoramos o aniversário do nascimento do nosso grão mestre, que há séculos não vive mais entre nós, mas que paira no nosso inconsciente coletivo.

Minha prosaica sintonização com a nostalgia aconteceu em peso quando, por acaso, resolvi utilizar os artifícios cibernéticos para encontrar uma canção que tocava frequentemente nas sintonias radiofônicas de Pernambuco, em um período remoto da minha vida. A melodia não saia da minha cabeça, mas a única parte da letra da música que minha memória conservava era uma simples frase que dizia: “Vento norte, protetor... vento norte, tradutor... justiceiro, bendito, ensina a viver nesta terra carente de paz e amor”. Nem sabia qual o grupo que tocava; mas o Google com a sua infinita eficiência localizou rapidamente os autores: o grupo chama-se “Grupo Karetas”; e o nome da música... “vento norte”. Trata-se, na verdade, da primeira canção de Reggae gravada em Pernambuco (no ano de 1983), e, portanto, a primeira inserção do estilo no dito estado do Brasil – vale ressaltar que tal fenômeno antecedeu outro ainda maior: a invasão do Reggae no estado do Maranhão, que só aconteceria lá pelos idos de 1987. Em poucos estantes, estava lá eu me deliciando com o tal vento que vinha do norte e entrava pela janela da minha antiga casa, situada na Rua Capitão Sampaio Xavier, no bairro dos Aflitos.

Tal recuo ao imenso prazer que presenteia a nostalgia me motivou a procurar saber um pouco mais sobre Reggae; adentrar um pouco mais na sua história, seus primórdios. Seu surgimento ocorreu na Jamaica, em meados de fim da década de 60 – período de mudanças culturais ocorridas, paralelamente, em diversos países da américa e da Europa, atingindo o campo das artes com inovações ousada na busca por novas formas. Fusões de estilos musicais que culminavam em um novo estilo eram bastante frequentes; e nesse aspecto, o reggae surge a partir de uma fusão do Rocksteady , o Ska e o Skank. Menos original (porém genuíno) eram as mensagens que as canções de reggae carregavam e carregam até hoje: paz, amor, liberdade e contra as guerras (assim como outros movimentos da contracultura que surgiram como protesto contra guerras como a do Vietnã). Tal mensagem hoje é bastante confundida por maconheiros e porra-loucas que cultuam o reggae como uma extensão das suas lisergias. Ao longo dos anos, alguns pequenos incrementos rítmicos foram inclusos no reggae; porém, tal acontecimento hoje é vitima de resistência por parte dos amantes do reggae que preferem o formato Roots (denominação carinhosa dada ao Reggae de raíz). Isso reflete uma tendência do reggae a ser conservador; e como consequência disto, não somente os amantes do estilo cultuam nomes clássicos como Bob Marley e Peter Tosh, como as próprias bandas que surgem e fazem sucesso entre o público, não apresentam sequer uma inovação musical. Essa preferência pelas raízes da coisa não tem muita semelhança elementar com a nostalgia, mas os termos que os definem se aproximam bastante: Se nostalgia significa reviver (regressar mentalmente a...) uma época que se passou, e raízes está relacionado a origem (algo situado no passado), então, nostalgia e reggae tem tudo (ou muito) haver. E por falar em roots e raíz (a mesma coisa), fui atrás de assistir ao filme “The Harder They Come”, de 1973, estrelado por Jimmy Cliff, um dos patronos do reggae. Nada mais raíz que este filme, que foi um dos principais responsáveis pela divulgação do Reggae fora da Jamaica. Sua história é banal, mas sua trilha sonora é gostosa e nostálgica... um personagem à parte. O reggae é pura nostalgia.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Rock In Rio... e o seu personagem principal: o Rock.



Caros amigos, a esperança de me verem publicando algo novo é a última que morre em vocês. Se caso for verdadeiro a sensação de falta, deixem que eu toque meu projeto para frente; e que cada novo texto seja composto de gratidão a vocês ao invés de esfarrapadas desculpas. Muitos temas deixei passar, talvez por falta oportunidades de me ver livre em mente para produção de algo genuíno. Nada mais oportuno como a celebração de um ritmo musical que definiu toda uma cultura a partir da segunda metade do século passado e influenciou gerações posteriores na medida em que ele ia se desenvolvendo: o Rock’n’Roll. A oportunidade encontrada não poderia ser outra se não a realização de um evento de grande porte – o Rock in Rio – que de antemão, visaria a celebração deste fenômeno tão marcante para a cultura juvenil do século XX. No domingo passado encerrou-se a sua quarta edição: o Rock In Rio 2011. Tal evento aconteceu em sete dias, intercalados nos períodos de dois finais de semana consecutivos. Foram sete dias de muitas atrações nacionais e internacionais e um espaço físico cuidadosamente arquitetado segundo a temática Rock, o qual foi batizado de Cidade do Rock.

Acompanhando o evento pela televisão, eis que me comporto como um espectador eufórico e incapaz de fazer uma análise fria sobre fatores envolvidos numa dimensão tão grande de articulação corporativa. Isso porque qualquer influência negativa em relação à realização do evento torna-se facilmente ignorada já que a atração principal era uma só: o rock. Nenhuma outra atração contida na programação que não correspondesse a este estilo musical (e que estaria presente no evento visando uma maior venda de ingressos) poderia ofuscar esta percepção de um ouvinte apaixonado por batidas escandalosas acompanhadas de guitarras distorcidas. Nem os problemas burocráticos e corruptos poderiam impedir a sua realização, já que ele agora se manifestava em sua quarta edição, com presença tão forte quanto as das edições anteriores; e que devido ao longo espaço de tempo entre as suas realizações, acabou por coincidir com momentos importantes da história do Brasil. Só para citar um exemplo: a primeira edição do Rock In Rio aconteceu no período de abertura democrática do país, em plena eleição de Tancredo Neves. Tal fato foi festejado no momento dos shows, o que não poderia deixar de ser, já que a cultura do rock está subjetivamente relacionada com o espírito revolucionário e libertário dos jovens desde a década de 60. E por falar em década de 60 e em espírito revolucionário, não podemos nos esquecer do festival Woodstock, realizado em 1969 no interior dos Estados Unidos. Aquele evento grandioso e cheio de falhas em sua estrutura ficou marcado na história como um grito juvenil contra a guerra do Vietnã que naquele momento acontecia. Uma celebração da paz e do amor em forma de música, mesmo que equivocadamente acompanhado de muito consumo de drogas e sexo inseguro. Tudo isto ilustra um pequeno – e talvez bobo, não sei bem em que medida – fato: o rock dita comportamentos, pensamentos e atitudes para os jovens. Produziu fortes subjetividades em outras épocas, e os grandes festivais nada seriam se não fosse a matéria-prima de sua idéia: Rock, Rock, Rock... and Roll.

Há muita coisa a ser dita de um modo geral quando o tema é rock’n’roll. Afinal são 60 anos de muitas bandas, inovações no estilo, movimentos estéticos e por aí vai. Só para ilustrar, desde que o rock deixou de ser somente rock, vários subgêneros foram criados: Album Rock, Glam Rock, Rock Progressivo, Hard Rock, Heavy Metal, Punk Rock, Grunge, New Metal; e porque não Pop Rock? Cada um desses subgêneros de rock possuiu a sua forma única de compor e se expressar, bem como símbolos específicos adotados pelos seus apreciadores, todos jovens adolescentes e adultos jovens. Há os que não curtiam rock e que o discriminavam, dizendo que era tudo igual e que a batida não mudava apesar das inovações, tornando-o limitado. Há os preconceituosos mais radicais, dizendo que é só barulho (aludindo somente aos subgêneros do heavy metal). De fato, o rock é mesmo limitado, considerando que a sua base musical é composta apenas de guitarra, baixo, bateria e voz; mas isso não impediu que o rock surpreendesse em termos de criatividade e inovação. O que se mantém comum a todos os seus subgêneros talvez seja a mais fantástica experiência subjetiva de se cultuar um um estilo de música: quem gosta de rock, geralmente gosta muito mesmo; e não se contém quando dá vontade de gritar e de se mexer. Aos meus leitores, desculpem se me comportei como uma Gruppie apaixonada. Mas é que, do Rock, eu sou isso mesmo.

sábado, 2 de julho de 2011

Qualidade de vida e um grão de arroz do pensamento oriental










Só mesmo uma noite de insônia pra me fazer tocar pra frente esse blog. Me sinto bem quando escrevo, porém, não tenho encontrado tanta disposição para tal. Não chamo de preguiça, mas sim de resistência; pode soar redundante, mas creio que não, devido à denotação do segundo termo que se refere a algo que tende a persistir com o tempo. Assim sendo, escrever passa a ser um exercício não só da mente mas também do espírito, que luta contra a ameaça de ter seu movimento congelado no tempo e de presentear o corpo com a sensação de morto enquanto vivo. Mas já que estou com insônia, é sobre qualidade de vida que irei falar.






Já tendo todos os leitores – não só meus, mas de todas as mídias possíveis - uma noção breve sobre qualidade de vida, sinto que podemos começar relacionando o tema com a busca pelo prazer. Que tipo de prazer você costuma cultivar no seu dia a dia? Pequenos prazeres? Bater um prato de arroz com feijão e bife quando se está verdadeiramente com fome? Ouvir música de um repertório preparado por você mesmo e gravado no aparelho celular? Assistir novela, depois um jornal, depois outra novela e depois um filme? Navegar na internet em busca de interesses próprios enquanto conversa com amigos, colegas, conhecidos e paqueras no chat? Transar com a(o) parceira(o)? Fumar cigarros? Fumar um cigarro depois de transar com a(o) parceira(o)? Êh.... vida besta e boa, que de tão boa, não merece a inveja de ninguém. Será isso mesmo? Eis que entra em cena um tema que, uma vez personificado em forma de ator coadjuvante para o enredo deste texto, dispensaria apresentações: qualidade de vida. É uma palavra chave constante nos artigos científicos das ciências humanas e da saúde ocidentais, que buscam instigar a sociedade a reagir contra os danos causados pela modernidade em suas vidas. Politicamente, é uma palavra de ordem; e midiaticamente, é um termo vulgar que se traduz na busca individual pela saúde e bem-estar.Mas por que entra em cena logo este tema? Porque pensar em qualidade de vida e se entregar à busca dos prazeres que a sociedade nos ensinou a olhar com tal não fazem parte de uma mesma proposta. Na verdade, até faria, uma vez que a qualidade de vida envolve, também, o nosso bem estar interior; porém, as consequencias trágicas que a busca por estes prazeres anunciam faz com que nos comportemos diantes dele fazendo jus à teoria do nosso querido Leon Festinger: A teoria das Dissonâncias Cognitivas. Mas não vou falar sobre esta teoria agora... saibam apenas que ela diz respeito a uma situação de extrema oposição entre pensamento e comportamento.






Recentemente, caiu em minhas mãos um livro que trata exaustivamente sobre este tema. Trata-se de uma organização de artigos sobre a promoção da qualidade de vida em crianças e adolescentes com situações de saúde física e mental comprometidas: portadoras de Autismo, Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, Vulnerabilidade Social, Pais separados, Violência na família, e outras mais. Cada artigo apresenta uma metodologia específica para a promoção da qualidade de vida, o que implica em não alterar a idéia central do que vem a ser qualidade de vida: A adoção de perspectiva, por parte dos sujeitos, sobre o seu bem-estar biopsicossocial. Significa algo mais do que simplesmente olhar para a qualidade da sua vida como um valor primordial; mais do que isso, implica o alcance de uma consciência corporal da sua saúde e bem-estar de modo que ela não exista somente na ideia, mas que faça parte do seu modo de vida por completo. Parece algo simples quando expresso com entonação poética, o que não é o caso da promoção da qualidade de vida. Promover a danada significa criar meios para o desenvolvimento da autonomia do sujeito, coisa que muita gente sã não consegue em toda a sua vida. Significa assumir a inteira responsabilidade pelo seu destino, pela sua história que, apesar das circunstancias ambientais, só pode ser escrita por você. É o objetivo a ser alcançado nos trabalhos de psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, terapeutas de todas as linhas. É o que nos emprega, o que nos sustenta, e nenhum lugar melhor para abraçar profissionalmente a esta demanda do que todo o nosso mundo ocidental.






Me refiro ao mundo ocidental por ser próprio dele a idéia de que somos vítimas de um mundo globalizado que oprime a nossa singularidade. Ainda estamos presos ao paradigma cartesiano que muito contribuiu para isto, e que nos faz perceber o mundo e a nós mesmos como coisas distantes umas das outras. Para pensamento deste tipo, não somos nada diante da grandeza do mundo, e portanto, nossa vida não passa de um peido de Deus. Já os orientais, com a sua belíssima filosofia milenar, vêem a natureza e o homem como entidades intimamente relacionadas. O taoísmo fala que a natureza possui um fluxo natural igualmente a nós, mas que não o percebemos devido um certo desapego com nós mesmos. Nem me adianto em falar muito sobre isso, pois o maior mestre do Tao, por exemplo, diz que o Tao não pode ser explicado, apenas sentido por cada um de nós. É uma busca interior, que só depende de si mesmo e por si mesmo. Cabe-nos pensar: "até que ponto conseguimos praticar isto?" A meu ver, este caminho é a chave para se alcançar a qualidade de vida, e o trabalho dos profissionais os quais me referi diz respeito a criar condições para que o sujeito possa se desenvolver interiormente. Não é a toa que as terapias holísticas estão em alta.... elas trazem a bagagem do pensamento oriental, o que para muitos significa uma luz num fim do túnel. Só devemos, também, ter cuidado para não vulgarizar o conhecimento trazido por estas práticas que, apesar de soarem como novidades para nossos olhos e ouvidos, são na verdade a origem do equilíbrio mental e espiritual de toda uma sociedade.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Primavera no mundo árabe






O que acontece quando você pretende seguir em frente em um projeto de blog quando uma notícia impactante toma conta dos pensamentos? Provavelmente, muitas notas e textos deveriam emergir sucessivamente da massa cinzenta. Mas e quando não é esta a proposta do projeto, quando a intenção de querer falar de tudo um pouco se choca com acontecimentos múltiplos? É bem certo que a coisa desande. É o que tem acontecido comigo, quando me dei de cara com os acontecimentos do mundo árabe, e sem conseguir ordená-los, acabo por atrasar outros textos que julgo importantes, mas cujos desenvolvimentos esbarram na metodologia que impede que algo inacabado dê espaço para novas produções. O jeito encontrado para o fechamento de tal Gestalt é não resumir os fatos, e sim, expor a minha visão pessoal a respeito deles, de uma maneira clara e objetiva.




A mais de uma semana que notícias impactantes não param de surgir sucessivamente. São realmente fatos de grande relevância para a cultura ocidental que, quando se apresentam aos nossos olhos e ouvidos (seja através da TV, rádio ou internet), nos posicionamos diante do aparelho como espectadores maravilhados e excitados com o poder da transmissão. De todos os acontecimentos que tenho testemunhado, escolhi um para tratar especificamente neste post: A Primavera Árabe. Trata-se de um fenômeno que está ocorrendo no oriente médio (que é vulgarmente chamado de mundo árabe devido a cultura islâmica que existe na região), mas que se aplica de forma apenas semelhante, também, ao continente africano. Tal fenômeno diz respeito à derrubada de Ditaduras opressoras da população, bem como a consequente instauração da democracia naqueles países. Teve início com a Queda de Zine El Abidine Ben Ali na Tunísia por parte de levantes populacionais, seguido da queda do presidente Mubarak, no Egito pelo mesmo processo, e protestos recorrentes na Síria, Líbia e outros países do oriente médio; todos provocados pela população de cada um destes países, afim de acabar com seus governos de longas datas.




O fator mais importante é a produção de subjetividade em grande escala que está se processando no lado de lá – fenômeno que não exclui as especificidades de cada país do continente. Algo semelhante vem também acontecendo na África, mas não vou precisar focar, já que entendendo um dá para entender o outro. O processo ao qual me refiro é o da instauração da democracia em países de ambos os continentes, em substituição a governos totalitaristas. De democracia temos conhecimento pleno desde filósofos clássicos como Aristóteles até o tratado das Nações Unidas do Direito da democracia: “Todo o poder emana do povo a ele está assegurada a autodeterminação dos povos em suas esferas políticas, econômicas e culturais”, assim está escrito no documento da ONU. Associando esta definição aos fatos rapidamente relatados no parágrafo anterior, percebe-se que a produção de subjetividade no mundo árabe tem a democracia como um valor a ser alcançado na política, um ideal inédito, um divisor de águas que, mais do que representante de algo bom, representa algo necessário para a política internacional que visa unir os povos, instaurar a paz no mundo e superar as desigualdades sociais.




É importante destacar o que muitos jornais já destacaram: a importância da internet nesse processo. É de praxe saber que a internet permite que a informação se torne acessível para todo um povo governado pela censura; mas, mais importante ainda é saber que, com o seu avanço as produções de subjetividade acontecem muito mais rápido. O que antes era visto como um processo quinquenal, hoje pode ser acompanhado no decorrer de uma década. Tal processo se assemelha à mudança comportamental dos jovens, que se inserem nos meios sociais mais rápido, e portanto, mais rápido alcançam mais rápido se rebelam contra um sistema familiar, processo que mais tarde apresenta, também o seu equívoco, no que tarda um jovem rebelde a sair da casa dos pais. Nesse sentido, esperamos que seja diferente no mundo árabe, que eles realmente encontrem a sua primavera, pois o mundo anseia por isso.




E por falar em ansiar, nimguém menos que os Estados Unidos para delegar tal sentimento. A participação do exército americano na implantação da democracia naqueles países não tem nada de imperialista como muitos idiotas costumavam pensar. É algo necessário para a economia, que hoje uma ciência dotada de pensamento sistêmico, reconhece a sua dimensão global, onde as partes de cada lugar geram turbulência em todo o sistema, que está em constante processo de mudança. Isso significa que, o interesse econômico dos estados unidos neste processo não diz respeito somente a eles, mas a todos os outros países do mundo inteiro. Se eles querem comprar e vender petróleo, nós também sentimos os efeitos, no preço da gasolino. Ora, é muito fácil falar mal dos estados unidos em nossa cultura anti-americanista classe média, mas e quando o preço da gasolina sobe, será que gostamos?




Por último, eis que muito satisfatoriamente termino esta breve insuniação sobre algo muito grande. É da democracia que falamos e destacamos como tema central. Da maneira como ela se apresenta, pode não ser a maneira ideal, mas a sua idéia é. Até agora, não vi na história da humanidade, outra forma mais adequada de governo. Já se foi o tempo das ditaduras, sejam elas socialistas (como foi o caso da ex união- soviética, dos países do pacto de Varsóvia, da américa latina, coreia do norte – que infelizmente ainda resiste- e china), sejam eles teocráticas (como o caso do mundo árabe)... e Adeus século XX.

domingo, 13 de março de 2011

Elogio ao amor


Carnaval passou, e nem deixou tanta saudade. Também, já virou rotina apesar do espaço de tempo que separa as suas sessões. Aqui, no Brasil, muitos costumam pensar que o ano só começa após o carnaval. A verdade é que a vida continua depois dele, pois a sensação de pôr os pés no chão depois do carnaval é de que tudo não passou de um sonho. Quem vive o carnaval, costuma, inclusive, sonhar com ele algumas poucas vezes durante o ano como uma manifestação inconsciente de amor ao seu povo e esperança de encontrar um amor para si. Alguns conseguem encontrar o seu amor, e por isso, fazem uma relação de continuidade entre a realidade e o sonho. Os que não conseguem, costumam encarar a volta aos pés no chão com naturalidade, escondendo a frustração de estar vivendo uma vida insignificante. Lógico que somos humanos, e por isso, temos grandes desejos de realização que não se adequam à real dimensão do mundo. Sempre estamos a procurar algo de melhor para as nossas vidas, e o fato de amar alguém auxilia energeticamente nessa busca. Somos demasiadamente humanos, e por isso, devemos investir nossas energias amorosas em alguém, é só assim, poderemos expelir todo o nosso potencial criativo na busca do nosso algo a mais. Não sei por que, mas tenho como exemplo disso o Ariano Suassuna: Toda a sua vida dedicada à literatura e à cultura popular, mas sempre com uma companheira do lado, a sua primeira namorada desde os 13 anos de idade. Não precisou procurar mais ninguém, e por isso, pôde investir toda aquela energia - que poderia estar sendo desperdiçada na procura por um amor ideal - na literatura.


Comecei falando sobre o carnaval, mas lógico que é sobre o amor que eu gostaria de falar. Faz parte de mim, pois venho vivenciando algumas frustrações amorosas ultimamente, e consequentemente, um estado de carência. Sei que é tudo minha culpa, e sei o quanto tenho que melhorar. Também não vivo nenhuma grande fatalidade, até porque, enquanto jovem da classe média, carrego na memória a frase de Gonzaguinha como uma ridícula manifestação de insatisfação e esperança: “eu sei, que a vida poderia ser bem melhor e será”. Mas uma coisa é certa, não posso ignorar isso, pois tá diretamente relacionada com meu crescimento. Amar alguém é o mínimo que devemos ter; faz parte não de um simples desejo, mas de uma necessidade básica secundária: o sexo. Alguns leitores mais hipocritamente moralistas (acho que não é o caso dos meus) poderia encarar essa última afirmação como vulgar, mas tá muito longe disso. Já devo ter mencionado em outros posts que o sexo tá entre necessidades básicas do ser humano. Também devo ter mencionado que necessidades básicas estão relacionadas com o instinto, e consequentemente, com a sobrevivência do ser humano, e que nesse sentido o sexo se caracteriza como um instinto secundário, pois está relacionado com a sobrevivência da espécie humana. Lógico que essa afirmação biológica de alguns séculos anteriores ignora as descobertas científicas atuais como a inseminação artificial, bem como a diversidade sexual. Quero aproveitar e citar o psicólogo americano Albert Ellis, criador da terapia Racional-Emotiva. Diz ele: - “Costumamos pensar que ‘preciso encontrar com minha amiga’, ‘preciso fazer meu trabalho de faculdade’, ‘preciso fazer isso ou aquilo’. Tá tudo e errado, pois só precisamos de três coisas na vida: comer, dormir e fazer sexo. O resto são apenas desejos”. Acho também que já o citei antes, mas o que quero afirmar com tudo isso, é que todos precisam amar, e amar não pode ser com qualquer um, não nos tempos de hoje; precisamos encontrar o nosso amor verdadeiro. É uma sina, e não devemos ignorá-la.


Além, dessa concepção biológica, que para alguns leitores possa soar tão maniqueísta, há também outra que eu gosto muito: a existencial. Amar alguém é reconhecer-se diante do olhar do outro. Existência se dá na relação, no outro que olha pra mim e diz: “você é...”. E mesmo que ele não diga nada, basta olhar no sei sorriso, no seu toque, sentir o seu abraço, captar o calor que ele transmite. É saber que, estando aqui, estou sendo pensado por alguém, e uma vez sendo pensado, estou ensinando algo para esta pessoa... aí, citando um filósofo que gosto bastante, o Martin Buber: “minha mensagem está sendo captada por alguém assim como eu capto as mensagens das pessoas tal qual as informações midiáticas que me são transmitidas”. É esse o amor que faz uma criança saudável, que se reconhece no olhar e no toque da mãe, segundo Donald D. Winnicot. É esse o amor que um dia se expandirá para os mais diversos espaços da sociedade, deixando as minhas impressões digitais nas pessoas que comigo se encontrarem. E quando um casal tem um filho? É quando a extensão da existência alcança o seu maior alcance, pois o filho representa uma continuidade da nossa existência, e a marca que antes era nossa, agora está nele, que passará para outros, para depois passar para os filhos dele, e assim sucessivamente. E quando as duas concepções anteriormente apresentadas se unem numa só: O amor com sexo. O sexo como uma necessidade, e que portanto está relacionada ao prazer, junto com o amor que expande a nossa existência. É, por assim dizer, o amor ideal, que tantos buscamos em nossas vidas, e que talvez nunca encontremos o que faz da nossa existência, algo bem menor. Mas fora estas concepções, o amor ainda possui outras. Só para citar exemplos, temos a cristã, onde podemos encontrar o amor fraterno, aquele que fez com que Jesus morresse por nós. E várias outras formas de amor também existem, e para isso temos a teoria de Alan John Lee intitulada “Estilos de amor”. Recomendo aos interessados que procurem na internet, pois já tá na hora de encerrar o texto, considerando que prezo pelo seu tamanho acessível. Termino então com uma frase que não concordo tanto, mas que se aplica a este momento: O amor é tudo, e sexo é mais ainda.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Carnaval 2011: Diversidade cultural ?


Vai começar mais um carnaval pernambucano. Mais uma manifestação de alegria, sensualidade, musicalidade e excentricidade. Época em que Colombina pede licença a Alecrim para ir atrás de Pierrô. E essa terra de Manuel Bandeira é que o bicho pega. Os clubes e as ruas se enchem de pessoas fantasiadas ou não, de grupos dos mais variados estilos musicais daqui (e de fora também, ponto que vou destacar logo mais), bonecos gigantes, dançarinos de frevo, barracas e isopores vendendo bebida e comida. O antigo e o novo se encontram, o rico e o pobre também. Sejam misturados na rua, ou segregados em seus clubes carnavalescos. Uma coisa é certa: o Carnaval é pra todos. Haja democracia, e justa por sinal; pois a vida é tão dura e todos devem ter o mesmo direito de esquecer problemas durante quatro dias. Há muita coisa a ser dita sobre o carnaval, principalmente por mim, que venho curtindo esta brincadeira há doze anos no mesmo endereço: Olinda e Recife antigo. Mas é sobre outra coisa que eu queria tratar aqui; tem haver com o carnaval, mas é um triste fenômeno que de tão recorrente, parece que é sempre novo: a Desvalorização da nossa cultura.

Vinha eu percorrendo o caminho de volta para minha depois de deixar minha irmã mais nova, Miriam, em seu trabalho, quando – parado no engarrafamento da avenida Agamenon Magalhães – ligo o rádio na minha estação predileta, a Universitária FM 99.9, para ouvir o programa comandado e apresentado pelo compositor de frevo, Hugo Martins, e intitulado: Carnaval 2011. Programa em que, assim como na emissora de um modo geral, a cultura pernambucana é defendida a todo o instante. Nesse dia, Hugo havia recebido um convidado especial: Geraldo Maia - cantor natural de Pernambuco, que procura tanto reinventar a nossa música, sem perder de vista as nossas raízes, como também homenageia cantores do passado que foram marcantes em sua influência musical. Pois bem; só que nesse dia, Geraldo Maia encontrava-se indignado com o tratamento oferecido pelos nossos governantes à nossa cultura popular, e expressou toda a sua indignação através de ataques severos e emocionados, e que mexeu tanto com as minhas emoções quanto com as minhas opiniões. O fato: Geraldo Maia não teve o seu projeto de show para o carnaval aprovado pela Fundarpe (Fundação do patrimônio histórico e artístico de Pernambuco) em nenhum dos espaços, em nenhuma cidade do estado inteiro. Foi triste para o carnaval de Pernambuco; não somente porque foi ele, Geraldo Maia, quem ficou de fora, mas assim como ele, muitos artistas que estão batalhando para terem o seu trabalho reconhecido, também ficaram. No decorrer da sua fala, Geraldo falou que colegas alguns dele, hoje reconhecidos e consagrados, tiveram o seus projetos aprovados e ganharam até quinze espaços de apresentação, enquanto ele ficou sem nenhum. Ele não citou nomes, mas quem conhece o carnaval daqui, deve saber bem quem são. A questão é: o que será da música pernambucana e do seu carnaval nos próximos anos se não permitirmos que novos artistas possam mostrar o seu talento? O que vai ser quando esse que estão aí consagrados morrerem? É preciso dinamizar mais a aparição destes artistas, permitir que saiam da toca, valorizar o que é produzido na nossa terra. Por falar em valorização, esse é o tema central. Tô contigo, Geraldo Maia.

Acompanhando outras edições do programa de Hugo, sempre com convidados indignados, é que percebemos o estado em que se encontra a valorização da nossa cultura. Só pra citar alguns exemplos: 1)O presidente do bloco “Virgens do Bairro novo” de Olinda proibiu orquestras de frevo de desfilarem no bloco. Frevo é a música mais característica do nosso carnaval, e é bem sofisticado, com metais e tambores soando alto. Pena que aos olhos de uns mais jovens pareça música de velho. 2) O prefeito do Recife, João da Costa (também conhecido como João da Bosta) juntou a festa do rei momo com a eleição do rei e rainha do carnaval, do baile municipal. Diga-se de passagem que a festa do rei momo é uma tradição. O que me deixou feliz foi a resistência de algumas pessoas que conseguiram realizar a festa do rei momo sem a prefeitura. Com isso, não quero dizer que todas as pessoas são imbecis e ignorantes com a sua cultura, nem que não devemos trazer grupos de fora para cá; mas que o carnaval deveria priorizar a nossa cultura, pois o grande problema dela é simplesmente um problema de valorização. Hugo Martins elogia bastante o baiano, porque sabe valorizar a sua cultura, a sua música. No carnaval, eles só tocam música baiana. E viva o povo baiano, tô com você hugo!! O baiano não invade lugar nenhum, nós é que mandamos chamar o baiano. Garanto que se não fosse pela valorização, o Samba-Reagae tocado naqueles trios-elétricos da Bahia, seria uma música tão chata de se ouvir quanto é o frevo aqui para algumas pessoas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fim do ano passado, Tio Benito e Deus na visão de Henri Bergson




Feliz ano novo atrasado a todos os meus leitores. Obrigado pelo incentivo tia Mércia, Sérgio, Breno e Sophia. Espero que este ano de 2011 possa ser bastante construtivo para todos nós; e que o sucesso não parta somente de acasos ou milagres, mas tenham suas raízes nos nossos esforços individuais e coletivos. Que estes esforços possam ser bem reconhecidos pela luz de nossas consciências. Tive um final de ano um tanto abalado devido a morte do meu tio Benito; o irmão mais querido do meu pai e um sujeito admirado por todos nós, especialmente por mim, que tive um relacionamento distante devido à distância física que nos separava. Ele morava em Macau, no rio Grande do Norte, enquanto sua família mora, em sua maior parte, aqui em Recife. Ele foi um grande professor de ciências sociais (enquanto tal, foi fundador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Macau) um grande poeta (teve alguns livros publicados) um grande político (não me lembro dele ter ocupado algum cargo público, mas sempre participou ativamente da política de Macau)... Enfim, um grande homem e um grande fidalgo. Foi, talvez, a pessoa mais importante para a história de Macau nos últimos 30 anos, e nas palavras do seu amigo, padre Murilo: Benito estava a trezentos anos à frente de nós, e só daqui a trezentos anos é que o povo de Macau irá entender as palavras de Benito Barros. E além de Tio Benito, ainda enfrentei um trabalho de apoio psicológico às famílias dos trabalhadores da transposição do Rio São Francisco que foram mortos e feridos devido a uma dinamite que explodiu num momento errado: ocasião em que eles se encontravam a uma distancia inferior a quinhentos metros dá área da explosão. Acompanhei o sepultamento dos mortos e a atenção hospitalar aos feridos, tudo em clima de muito sofrimento e tensão por parte dos familiares. A parte boa foi que esse trabalho me redeu três mil e quinhentos reais ao todo, somando as horas de trabalho (39 horas). Mesmo assim, ainda me senti mal, por pensar que tal bolada só foi possível graças à desgraça dos outros. Mas a vida segue sempre esse caminho cíclico dos que morrem e dos que nascem... e não haverá Deus nem ciência para reverter isso daí. O que eu peço a Deus nessas horas, é que a eternidade seja um bom lugar para todas as almas, além das boas, claro, como a do meu tio Benito. Nas palavras do meu tio Faé: vai que Deus estava precisando dele lá no céu, uma pessoa competente para ocupar o cargo de secretário do universo.

Mas é sobre Deus que eu queria tratar neste texto já que toda essa experiência vivida por mim nos últimos dias de 2010 é, em síntese, uma experiência de vinculação da matéria com o espírito, de sintonia do homem com o sagrado. Na verdade, só vou tratar de um pequeno aspecto dele, pois o todo-poderoso é talvez o mais amplo, mais complexo e mais profundo de todos os assuntos. São muitas linhas de teologia que vêm sendo traçadas até hoje com o intuito de estuda-lo, e portanto, não será um textinho mixuruca de blog que irá abordá-lo em sua totalidade. O contexto que escolho para expor uma visão particular (mas nem tanto, por ser fundamentada filosoficamente) é a da diversidade religiosa que habita todos os habitats humanos do planeta terra. O cenário dessa diversidade mais se assemelha a um mercado de religiões, todos a disposição do homem para que este escolha qual o Deus que ele mais se identifica. Em cada uma delas, Deus possui um nome: Deus, Alá, Buda, Krishina, Olorum ... e outros que não me vêm à mente no momento. Cada um deles é dotado de um sistema de verdades religiosas, valores morais e éticos e histórias dotadas de provérbios à respeito da origem de tudo e de todos. Antigamente, cada religião possuía o seu território de dominação, e a história da população deste território se confundia com a história desta religião. A expansão de uma religião além do seu território ou mesmo a invasão de um território alheio por parte de outra religião muitas vezes resultava em conflitos banhados de sangue. O advento da era moderna, juntamente com a progresso em escala global para uma economia capitalística neoliberal de livre intervenção permitiu com que esses conflitos fossem amenizados em prol de uma abertura, também para as religiões. É uma pena que esta abertura ainda não foi possível para algumas regiões como a do estado da Palestina, que nos dias de hoje, ainda vivencia conflitos religiosos entre judeus e árabes. E apesar da existência ou não de conflitos violentos, o centro da discussão entre os religiosos das diferentes religiões nunca deixa de ser o mesmo: qual Deus é o mais verdadeiro? O meu ou o seu?

Sobre essa questão, eu tenho uma idéia que não é propriamente minha, pois é embasada na visão de um grande filósofo francês: Henri Bergson. Para ele, Deus é o Ser Criador, que criou o mundo, história essa que ouvimos falar antes. A diferença está no plano em que este deus se encontra: Dentro de nós, de modo que podemos alcança-lo através da nossa transcendência, da nossa evolução espiritual, emocional e cognitiva. Diz ele ainda que a poder da criação foi designado também ao homem, e que este pode se aproximar da condição divina, de Deus, quando este exerce o poder criador de forma plena. E vamos além...Criar, na visão de Bergson não significa inventar coisas, descobrir através da ciência; não, é de outra criação que ele trata. É da criação humana que ele trata, aquela que se dá na relação do eu com os outros, na inserção do homem na sociedade. Criar através de uma nova ou antiga relação é permitir o acontecimento da aprendizagem no campo desta; é me fazer presente na vida de uma pessoa mesmo quando estou ausente dela, pois ela carrega o meu modo de ser na construção de sua identidade, e quando estamos juntos, estamos de tal forma que nosso poder criador encontra-se em grau elevadíssimo. Ao estender o seu pensamento sobre o fenômeno criador, Bergson destaca alguns conceitos que são chaves nele. Um deles é a “Intuição”. A intuição se contrapõe às instituições, que são estruturas rígidas localizadas na sociedade, que barram o processo criativo, paralisando o nosso corpo perante o peso as estruturas que estão fora de nós. É na intuição que a vida se movimenta, é nela que reconhecemos o nosso poder perante as instituições e a criatividade possa acontecer na minha relação com estas instituições. Assim sendo, qual religião possui o Deus mais verdadeiro? Eu diria que todas possuem um Deus verdadeiro, pois a verdade está aonde a criação também está. Não adianta eu estar numa religião aonde a criação não aconteça, aonde eu não consiga me ver naquela verdade, de modo que a minha vida não muda e nem eu me torne um ser mais criativo na minha relação com as outras pessoas. Ou seja, a verdade religiosa é um processo singular, pois diz respeito ao despertar do meu processo criador no contato com essa ou aquela religião. É importante destacar também na visão de Bergson, o que ele pensa sobre o Amor. É através do amor que a criação da vida acontece, é a condição para isto; o contrário dele é o contrário da criação; ou seja, a destruição. Se eu me encontro numa religião aonde a verdade dela não faz bem nem a mim e nem às pessoas que estão perto de mim, então não há criação, pois não há aprendizagem, reflexão, liberdade, intuição. Todo como exemplo alguns grupos radicais da religião mulçumana, que atacam os judeus na palestina sob a crença de que é o caminho de Alá para implantar a paz no mundo e varrer o mal da terra. Bem, isso só se consegue debaixo de sangue. Agora, percebam o seguinte: eu não estou falando da religião mulçumana em si, pois esta enquanto religião, ele está a favor da criação entre os seus seguidores. Me refiro aos grupos radicais, bem como outros que existem em outras religiões, que não favorecem o processo criador e terminam por criar mais instituições ao nosso redor. Enquanto um cara religioso, porém, sem religião definida,venho procurando conhecer os dizeres de diversas religiões. Me considero católico apostólico romano, religião sob a qual fui concebido socialmente; mas a minha visão de Deus é a que Henri Bergson me ensinou. Deus é Henri Bergson.