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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A morte


Gosto muito dos meus leitores, mas hoje acordei com desejos sádicos e sadomasoquistas; por isso, vamos tratar de um tema pouco agradável: a morte. Aperta o cinto, Sophia. Este tema soa indigesto, pois consiste no único paradigma imutável de nossa existência: a certeza de que vamos morrer um dia. Cultivamos duas coisas em nossas vidas: as metas para se alcançar o status da felicidade e os pequenos prazeres, onde o tempo parece congelar e dar lugar ao eterno. Esta horta nos permite ignorar a cada instante o pensamento sobre a morte. Mas desde já, não vou ignorá-la, vou judiar um pouco de mim e de vocês. E ai, leitor? Como será a sua morte? Sabe aquela dor física insuportável, a maior que você vai sentir na sua vida, tanto que seu corpo não resistirá? Pois é, ela vai vir. Estarás preparado? Quanto será que vai doer? E a dor? Esta é a que mais nos apavora. Ao saber que vamos ter que passar por uma cirurgia, arrepia até o cabelo do dedo do pé, quando projetamos o sentimento para a dor que vamos sentir no processo.


Pois é, por maior que seja o nosso bem-estar físico e psíquico, a dor virá nos castigar, e tudo será somente uma questão de decisão do maior agente de toda a nossa existência: o tempo. Esse aí é o mais sacana de todos, pois ele tem o poder absoluto. Quando pensamos que temos poder de mudar o mundo, ignoramos uma força muito maior que do que nossas mentes e nossas mãos... o senhor tempo. O tempo é quem realmente domina; do contrário, tudo o que se iniciaria não necessariamente teria um fim. E a verdade é esta: tudo tem um fim. Nada vai ficar, nem as memórias culturais mais resistentes ao tempo, como a de Jesus Cristo, por exemplo. Será que Jesus vai ser esquecido um dia também? Com certeza, será. Sabe-se lá se até então o tempo encontrará outro adversário tão poderoso quanto Jesus Cristo.


Quando criança, eu dei os meus primeiros suspiros filosóficos ao perguntar ao meu tio “Faé” se todos iriam morrer, inclusive eu. A resposta afirmativa dele foi um choque de milhões de volts. Eu me lembro de que chorei demais nesse dia, e desde então, eu não vivo um dia sem pensar por alguns instantes que em algum momento eu vou morrer. Eu fantasiava até sobre uma tal “pílula da imortalidade” que algum cientista competente iria descobrir antes que eu morresse. Pena que isso não aconteceu até agora. Na verdade, hoje eu penso que não gostaria realmente de ser eterno; porém, seria ótimo que pudéssemos viver mais do que esse período de permanência que o agente tempo nos permite viver. 60, 70, 80, 90 e agora 100... é muito pouco. O ideal seria que pudéssemos viver até 500 anos – aí sim, eu acreditaria que nas palavras de uma pessoa idosa de quinhentos anos que diz estar enjoada de tanto viver.


Bom, peço desculpas a alguns leitores mais religiosos do que eu. Eu sou um cara de fé, acredito em verdades universais, penso muito sobre a ética, o bem e o mal, sobre a salvação da humanidade. Até na eternidade espiritual eu acredito. O problema é o tamanho da subjetividade que abarca a idéia de morte e todos os afetos que a envolve. Por falar nisso, preciso assistir ao filme “nosso lar”, baseado na obra homônima de Chico Xavier; acredito que vai me render muitas palavras para um próximo texto sobre este tema. Atrai-me bastante a ideia de que somos espíritos encarnados, e por isso, a vida se estende além deste corpo. O problema é que ‘apenas’ atrai. Quanto a acreditar é preciso que meu sonho mais existencial se realizasse: receber a visita de um espírito desencarnado. Ah, como seria bom, eu faria milhares de perguntas a ele.

3 comentários:

  1. tomava uma cerveja, nesta sexta no altschwerin (um boteco bem derrubado, perto da estação central de trem (um pouco parecido com a antiga estação rodoviária) em Hamburg. Lugar para lá de estranho, pessoas estranhas, clima estranho (frio, nublado, nevoento - Garanhuns em seu inverno mais frio). De repente, falamos da morte. O meu amigo Hannes me fala que a morte é algo legal quando a alma não consegue carregar o corpo. a vida é essencialmente algo de sofrer, com instantes felizes, mas essencialmente o provar amargo da decadência do corpo, da desilusão das pessoas - que pensam que não são animais e portanto desprovidas de perversidade do mal (lembro-me de alguns autores franceses que falam da essência do mal). Ao descobrir da plenitude, que se consegue quando se é jovem e se pode tudo (quando se descola da tutela dos pais mas ao mesmo tempo não se assume por completo enquanto independente; pode ser consequentemente, irresponsável), se segue toda uma vida eivada de decepçôes: amorosas, dos amigos que lhe traem, das pessoas que lhe rodeiam, .... enfim, descobre-se que viver é algo essencialmente doloroso. Há um momento, segundo Hannes, que a alma não mais suporta o peso da vida e que, neste caso, é melhor morrer. O que nos inquieta sobre a morte não é extamente o fim, mas o não existir, o nada. O vazio é nos deixa inquietos. Não seremos, nem essa nem outra coisa. Simplesmente desapareceremos. E isto é algo insuportável para quem tem a consciência de si.
    É uma visão, como percebemos, bastante sombria. Mas o de interessante em Hannes é que ele, mesmo carregando a herança germânica, é adepto do candomblé, e profundamente religioso. Crê sinceramente que, apesar de tudo, o nada não é algo que se descobre com a morte, mas sim o além de si, outra coisa que viver mundanamente. Não necessariamente o paraiso, mas algo que é outro, mas não o fim/nada. Acho que devo contiuar com Hannes, em outra ocasião, um pouco sobre como ele poderia descrever o para além da vida .... ou simplesmente morte.
    Por isso caro Mateus, a dor física talvez seja a mais evidente, mas a angústia da morte certamente é decorrente da consagração do nada. Porque, afinal de contas, contra a dor (física) existem as drogas, mas em relação ao vazio, ainda não se descobriu uma certeza de algo que o preencha....

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  2. É Breno; você trouxe com esse seu comentário brilhante o principal ponto causador do sentimento de angústia que a certeza da morte nos proporciona, e que acabei deixando de fora do texto por. É a angústia do nada, do não existir. Quanto a hannes,eu concordo com o que ele diz, mas acho que é um tanto mais específico do que a dor física. Trata-se de um sentimento decorrente da depressão, e pode ser modificado quando o ser humano alcança dimensões exisenciais maiores, econtrando novos sentidos para a vida. Estes sentidos são direcionamentos com todos os elementos que compõem o quadro complexo que formam qalquer sentido da vida. Dentre estes elemenos, temos as fontes de prazer, que você até citou no seu comentário; mas assim como os sentidos que se encontram são novos, os prazeres também seriam. É como, por exemplo, um ex jogador de futebol que encontra sentido nas artes, ou um ex-sedentário que se torna ultramaratonista. Dá para se combater esse sentimento, assim como você acabou de me mostrar que também pode-se combater a dor física com uso de algumas drogas

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  3. Amigo das palavras,sua crueldade foi válida. Mesmo a morte sendo um tema forte, meio assustador é também curioso...a vida e seu oposto. Acho que o mais assustador da morte não é a própria, mas os mistérios a ela atrelados:o que vem depois? há algo depois? Deixar a vida(seus prazeres e dissabores), deixar quem se gosta, ou ver quem se gosta partir e pensar que havia um pouco mais que se aproveitar mexe muito. Afinal, a proximidade da morte nos reviva a importância e o gosto da vida.
    Eu acredito seriamente que minha morte será indolor(na matéria)e dormindo como a da minha avó. Mas antes quero viver,apenas, o suficiente para as pequenas felicidades...não muito. Nada de três casas dos cem porque o mundo anda cruel demais,as pessoas estão irreconhecíveis. Quero um pouco das pequenas alegrias.

    PS: Fiquei na maior expectativa, mas adorei seu post. Escreva mais porque suas palavras têm convidado mais gente para participar.

    Até o próximo,
    Sophia.

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