Já chega, desta vez passei tempo demais sem escrever. Bati o recorde de preguiça e me acomodei no conforto angustiante das redes sociais enquanto não transformava uma gota de pensamento em palavras. Vamos ver agora como anda o meu pique. Mas agora o clima é mesmo de paz e conforto; pois após um período de letargia mental que se apossou de mim devido a uma nuvem negra que pairou sobre a minha cabeça em novembro, eis que chega dezembro em clima de retrospectiva de um ano que se vai. Ao invés de retrospectiva, algumas pessoas como eu preferem recorrer a recordações mais antigas, o que dá vazão a um sentimento ambíguo, provocador de prazer e desprazer ao mesmo tempo: a nostalgia. Tal sensação diz respeito ao prazer de reviver algo que já foi felizmente vivido, e, também, ao desprazer de cair na consciência de que este tempo não volta mais. É uma espécie de sentimento pelo irreal, por imagens que permanecem apenas na memória em contraste com uma realidade cujas imagens apenas deixaram marcas. Talvez a época do natal remeta um pouco à nostalgia de forma arquetípica, pois na data dele, comemoramos o aniversário do nascimento do nosso grão mestre, que há séculos não vive mais entre nós, mas que paira no nosso inconsciente coletivo.
Minha prosaica sintonização com a nostalgia aconteceu em peso quando, por acaso, resolvi utilizar os artifícios cibernéticos para encontrar uma canção que tocava frequentemente nas sintonias radiofônicas de Pernambuco, em um período remoto da minha vida. A melodia não saia da minha cabeça, mas a única parte da letra da música que minha memória conservava era uma simples frase que dizia: “Vento norte, protetor... vento norte, tradutor... justiceiro, bendito, ensina a viver nesta terra carente de paz e amor”. Nem sabia qual o grupo que tocava; mas o Google com a sua infinita eficiência localizou rapidamente os autores: o grupo chama-se “Grupo Karetas”; e o nome da música... “vento norte”. Trata-se, na verdade, da primeira canção de Reggae gravada em Pernambuco (no ano de 1983), e, portanto, a primeira inserção do estilo no dito estado do Brasil – vale ressaltar que tal fenômeno antecedeu outro ainda maior: a invasão do Reggae no estado do Maranhão, que só aconteceria lá pelos idos de 1987. Em poucos estantes, estava lá eu me deliciando com o tal vento que vinha do norte e entrava pela janela da minha antiga casa, situada na Rua Capitão Sampaio Xavier, no bairro dos Aflitos.
Tal recuo ao imenso prazer que presenteia a nostalgia me motivou a procurar saber um pouco mais sobre Reggae; adentrar um pouco mais na sua história, seus primórdios. Seu surgimento ocorreu na Jamaica, em meados de fim da década de 60 – período de mudanças culturais ocorridas, paralelamente, em diversos países da américa e da Europa, atingindo o campo das artes com inovações ousada na busca por novas formas. Fusões de estilos musicais que culminavam em um novo estilo eram bastante frequentes; e nesse aspecto, o reggae surge a partir de uma fusão do Rocksteady , o Ska e o Skank. Menos original (porém genuíno) eram as mensagens que as canções de reggae carregavam e carregam até hoje: paz, amor, liberdade e contra as guerras (assim como outros movimentos da contracultura que surgiram como protesto contra guerras como a do Vietnã). Tal mensagem hoje é bastante confundida por maconheiros e porra-loucas que cultuam o reggae como uma extensão das suas lisergias. Ao longo dos anos, alguns pequenos incrementos rítmicos foram inclusos no reggae; porém, tal acontecimento hoje é vitima de resistência por parte dos amantes do reggae que preferem o formato Roots (denominação carinhosa dada ao Reggae de raíz). Isso reflete uma tendência do reggae a ser conservador; e como consequência disto, não somente os amantes do estilo cultuam nomes clássicos como Bob Marley e Peter Tosh, como as próprias bandas que surgem e fazem sucesso entre o público, não apresentam sequer uma inovação musical. Essa preferência pelas raízes da coisa não tem muita semelhança elementar com a nostalgia, mas os termos que os definem se aproximam bastante: Se nostalgia significa reviver (regressar mentalmente a...) uma época que se passou, e raízes está relacionado a origem (algo situado no passado), então, nostalgia e reggae tem tudo (ou muito) haver. E por falar em roots e raíz (a mesma coisa), fui atrás de assistir ao filme “The Harder They Come”, de 1973, estrelado por Jimmy Cliff, um dos patronos do reggae. Nada mais raíz que este filme, que foi um dos principais responsáveis pela divulgação do Reggae fora da Jamaica. Sua história é banal, mas sua trilha sonora é gostosa e nostálgica... um personagem à parte. O reggae é pura nostalgia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário