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quinta-feira, 2 de abril de 2009

o mal da felicidade

Quanto será que custa a felicidade? Será que ela existe? Essa segunda pergunta, de tão comum, já virou jargão de mesa de bar entre jovens de várias idades (já que a juventude não tem mais limite de idade por ser um ideal), pois ser jovem é ser feliz a cada instante, curtir a vida com intensidade. Mas será que isso é suficiente pra resolver nossos problemas mais profundos? Longe disso.
O maior problema da felicidade está em sua própria idéia. Concebemos a felicidade em nossas mentes como um lugar a se chegar e lá estacionar. Um lugar aonde a sensação de prazer seja eterna, ilimitada, onde não conseguimos parar de sorrir de tanto sentirmos prazer. Isso é operacionalmente impossível já que o desprazer é fonte da vida e do nosso crescimento. Precisamos dele para que possamos aprender a lidar com nossos limites e potenciais de seres humanos. Limite é uma palavra que precisa entrar no vocabulário da felicidade. Tomemos como exemplo, o sexo: Seres humanos e animais respondem igualmente aos atos sexuais... Gozando, parando e recomeçando. Depois de um gozo, é preciso um tempo para que o animal se recomponha, e nesse tempo, uma leve sensação de cansaço e disforia tomam conta do corpo. Algo como uma imperceptível depressão acompanhada de ausência de desejo. Uma sensação passageira e necessária para que o organismo retorne ao seu equilíbrio energético, à sua homeostase. Por que, então, insistir no gozo se limites, se a limitação e uma condição fisiológica? Nossa imbecilizada cultura pós-modernidade esqueceu essas leis e elevou tanto a ideologia felicidade que hoje podemos dizer que existe uma ditadura da felicidade. Como toda ditadura envolve opressão, o sujeito tem que oprimir seu mal-estar diante do público; tornou-se proibido sentir-se mal. Todos têm que estar bem alegres e sorridentes como hienas para que as alegrias se multipliquem até que finalmente se esqueçam do inferno que carregam dentro de si.Nem o nome ideologia se encaixa com a palavra felicidade, pois uma ideologia requer uma visão do amanhã, um modo de ser que visa um mundo ideal. Não existe amanhã para a felicidade, ela só existe no aqui e agora. Temos que senti-la através do nosso corpo, das nossas excitações. Ela existe até na tristeza, quando, por exemplo, uma pessoa consegue produzir um texto como estou fazendo agora. A criação é a fonte existencial do nosso prazer. Criamos a cada instante, em cada momento das nossas relações humanas, quando nos comunicamos, agimos no mundo, transformamos o outro. Quando não criamos, caímos no desespero do vazio, e até as fontes mais primárias do prazer – como o sexo – deixam de nos excitar. Nesse momento, muitos recorrem às drogas, pois elas fazem o corpo e a mente sentirem. Do mesmo jeito que o efeito da droga é passageiro, o prazer também é. Devemos aprender a viver com nossos momentos de desprazer, aprender com eles, lançar corpos para a fonte da criação. Em outras palavras, felicidade é vives todos os sentimentos possíveis da maneira mais intensa possível, segundo as palavras do psicanalista Contardo Calligaris. Sendo assim, deixemos de almejar tanto que a vida fosse de outro jeito e vamos viver o agora.

Um comentário:

  1. Gostei dos três posts. Continue assim. Ah, e vê se segue o meu blog também!

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