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domingo, 12 de abril de 2009

Os Idiotas


No ano de 1978, numa entrevista com o jornalista Otto Lara Resende, o nosso saudoso cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues fez uma das suas mais brilhantes profecias: A revolução dos idiotas. Disse ele que os idiotas no Brasil iriam se recolher de suas minorias insignificantes e se tornariam maioria em nossa gloriosa cultura nacional, ocupando grande visibilidade na mídia e no cotidiano, e com isso, exercendo maiores influencias bestiais na nossa sociedade. Uma matéria feita pela equipe do excelente programa Documento Especial feita em 1990 ilustra bem a concretização dessa profecia. Vale a pena conferir não só pelo excelente resultado final dessa matéria, como também, pela genialidade que foi esse programa, uma especíe de globo repórter, só que mais independente e ousado. Aos interessados, está disponível no link: http://www.youtube.com/results?search_type=&search_query=documento+especial+a+revolu%C3%A7%C3%A3o+dos+idiotas&aq=f
O que nosso “Reacionário” se referio como idiotice nacional, na verdade, é um fenômeno internacional e têm profundas raízes no modo de vida americado: o americanway of life. E por falar nele, um grande nome das artes plásticas e da contracultura americana dos anos 60 - Andy Warhlol – também profetizou uma verdade atual: “no futuro, toda pessoa comum terá os seus quinze minutos de fama”. Tal profecia se concretizou como uma meia-verdade, pois os quinze minutos de fama não vêm a ser um dieito, mas um sonho possível a todos. Os modos mais comumente usados para se alcançar essa fama é que representam os maiores sintomas da idiotice. Permitam-me assinalar alguns:
1 – O principal critério para uma pessoa ter alguma visibilidade na mídia televisiva e virtual passou a ser a imagem. O telespectador não têm demonstrado muito interesse por conteúdos informativos quando a proposta das programações se voltam mais para o entretenimento. O ato de se ligar uma televisão consiste num ritual de ralaxamento, e nada melhor para se alcançar tal objetivo do que contemplar uma bunda imensa ou uma montanha de músculos perfeitamente desenhados na tela do computador ou da televisão. As celebridades mais cobiçadas pela mídia são pessoas fisicamente bem desenhadas, muitas delas sem nenhum trabalho intelectual ou artístico anterior, elementos que antes eram previlégios de pessoas bastante influentes no Brasil. Enquanto escrevo essas palavras, muitas pessoas estão investindo nas suas imagens enquanto sonham entrar no Big Brother ou pretendam postar vídeos e fotos na internet seguindo de exectativas de grande acessibilidade dos internautas. Não devemos excluir desse aspecto, o comportamento dos jovens nas baladas noturnas: pouca conversa, muito alcool seguidos de outras drogas e acima de tudo... a exposição de sua imagem ao público.
2 – A explosão da violência nas grandes metrópoles brasileiras parte de dois pressupostos: a expansão das favelas – bem como do desemprego e da precariedade nas condições de vida que essas pessoas passam a levar – e as oportunidades oferecidas por milícias que atuam nas milícias do tráfico. O esse segundo é o mais influente. Dentre as oportunidades oferecidas, a que mais atrai é, sem dúvida, o status alcaçado alcançado pelos bandidos, tanto na mídia televisiva quanto nas comunidades em que atuam. Desde cedo, crianças dessas comunidades sonham em serem bandidos e poder mandar geral. Tal status pode se manifestar identitariamente de maneira individual e grupal, como é o caso das torcidas organizadas nos estádios de futebol. Sobre a violência, devo acrescentar que, de um modo geral, o valor da vida se banalizou; isso é diariamente reforçado pela ineficiencia do código penal brasileiro, pois do ponto de vista da lei, um criminoso não só tem direito a sua liberdade como goza de previlégios oferecidos pelo estado.
3 – No terceiro ponto a assinalar a fama se desloca da pessoa em si e ganha projeção em líderes políticos. É o caso do nosso presidente Lula e dos seus seguidores, que ganham mais visibilidade na mídia e na opinião pública. A fama que faz esses políticos não é almejada por todas as pessoas comuns, mas servem como depositária de esperanças de melhoria na vida de muitas pessoas, uma vez que a democracia brasileira se apresenta como complexa para a compreensão do senso comum. Os elementos que compõem essa fama surgem da identidade do grande povão brasileiro, formado por uma maioria de analfabetos, sem segundo grau completo e sem diplomas universitários. Muitos sonham e tentam entrar na política, fenômeno esse que vêm sendo reforçado pela ascenção de um simples torneiro mecânico. A triste realidade desse aspecto da ibecilidade nacional é de que a ética dos políticos é subjugada em dentrimento das projeções dos seus discursos messiânicos na mentalidade das pessoas. As praticas corruptas são veladas e a verdadeira realidade que assola a população (altos impostos, baixos salários e irregularidade no serviço público) não são esclarecidos quanto às suas reais causas.
Minha proposta com esse texto não foi de diagnosticar por completo a idiotice do povo brasileiro; portanto, se algum sintoma foi esquicido, saibam que ele não foi ignorado. No mais, encerro minhas palavras dizendo que ser idiota tem o seu lado bom caso os objetivos por ela traçados possam ser alcançados: podemos viver gozar de previlégios oferecidos pela fama disponível a muitos desde que não seja através da violência nem da falta de escrúpolos. Podemos construir uma fama através da dignidade e do uso da inteligência presenteada por Deus. Essa, ao meu ver, é muito mais saudável.

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